ThaynaraOG busca fama de subcelebridade — e coisas grátis

por Dani Arrais, sócia-fundadora da Contente.vc

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"Apresentar o Eu on-line não é mais se empenhar numa busca paciente, voluntária, metódica de si, mas se expor na imediatez da sua experiência enquanto é vivida, sem recuo, sem receio, sem pudor. Não mais o diário íntimo, oculto, mas a demonstração contínua: eis o tempo da transparência de Si, exposta no Facebook. Um individualismo que, ao contrário de uma construção à antiga que se empenhava para se emancipar das convenções, das normas sociais e religiosas, se elabora numa busca obsessiva e lúdica de comunicação, de compartilhamento, de vínculo. Uma representação de si que não procura mais o que era, outrora a finalidade afirmada desta — a autenticidade, a verdade profunda do sujeito -, mas que valoriza a expressão direta, transitória, fugidia das emoções: não um mergulho analítico e labiríntico dentro de si, mas a exposição imediata de suas experiências, de seus gostos, de suas impressões mutáveis". Gilles Lipovetsky em "A estetização do mundo"

O Snapchat é a nova televisão, e Thaynara OG (Snapchat: thaynaraog) é a rainha do horário nobre. A maranhense de 23 anos conquista cada dia mais seguidores graças a um desejo: tornar-se uma subcelebridade. Isso mesmo: ela nem almeja a fama de uma celebridade, contenta-se como a “subfama”. Seu objetivo? “Ganhar coisas grátis”. E entreter os “seguidores criminosos” desse Brasil — bordões que ela repete o tempo todo.

Thaynara Gomes começou a “colocar o Maranhão no mapa” em 2015, depois de um fim de namoro. Toda noite, liga o Snap e começa seu show. Engraçadíssima e cheia de carisma, ela vai criando quadros e usando o zoom com maestria, além de fazer uma edição super dinâmica, com direito a trilha sonora e sonoplastia, quase como um programa de TV.

Entre os quadros, destaque para o #thayresponde, em que ela responde as perguntas que deixam no seu Instagram (@thaynaraog) e o de lançamento, quando ela coloca a foto de alguém solteiro, indica o perfil e incentiva a paquera. Sexta é pra vida bandida, com ela, “solteira guerreira”, indo a boates e shows — do É o Tchan ela é fã e já conhece os integrantes da banda. A cachorra virou Jade Sinistra e ganhou o “Funk do Kiu”. Kiu, aliás, é a onomatopeia que é sua marca registrada — fãs passam pelo prédio dela gritando isso. “Tudo só pela polêmica”.

Com a indicação da blogueira Camila Coutinho, seu perfil deslanchou. Outras webcelebridades, como Jout Jout e Caio Braz, também caíram de amores por ela, que é advogada durante o dia e ensaia a vida de digital influencer à noite. Se há um mês ela ganhava bolos e pizzas, muitas vezes dos próprios seguidores, hoje marcas dos mais diversos segmentos e tamanhos enviam dezenas de presentes pra ela. Quando o celular de sua irmã, Ludmilla, pifou depois de cair na piscina, uma empresa entrou em contato e disse que, caso ela conseguisse 4.000 seguidores para o perfil, ganharia um novo celular. Em 40 minutos, a marca chegou a 5.000 seguidores.

Há algumas semanas, foi convidada para levar 200 seguidores para a pré-estreia de um filme. Em poucos minutos, preencheu a lista, feita a partir de mensagens diretas no Instagram. Ao chegar no shopping em São Luís, se viu rodeada de fãs querendo tirar fotos, fazer Snap, entregar presentes. Tinha até criança no meio, adolescentes nervosos ao se aproximarem dela. Para completar mais um dos seus quadros, o “Vencendo na vida”, o apresentador Celso Portiolli falou dela em seu programa no SBT.

Carisma, humor, autenticidade e um tom desbocado são o forte da maranhense. Ela se vale de todo o vocabulário e mise-en-scène das celebridades reais, blogueiras e garotas fitness para declarar que o que importa é ganhar coisas de graça, ser VIP na balada e trocar o poder digital por ainda mais coisas na vida real. Enquanto uns tentam camuflar, ela escancara, se expõe e vai acumulando seguidores em velocidade impressionante, somando mais de 110.000 até o momento na publicação desse texto, além de 90.000 visualizações por dia em seus posts no Snapchat.

Fenômenos assim me intrigam, vocês já sabem — e se eles acontecem no Snap, ainda mais (já escrevi algumas vezes sobre isso: Viva o efêmero, ou porque o Snapchat é a coisa mais legal do momento; A vida real de uma musa fitness no Snapchat; Snapchat: Como as celebs transformaram a rede em seus próprios reality shows). Sou fascinada por novidade, pela comoção que alguém pode gerar. Acompanho histórias como se fossem novela, dou audiência e logo acho inevitável pensar nos porquês daquilo tudo. Uma parte de mim acha estranho, outra se sente atraída e a parte que gosta de escrever aqui fica querendo fazer uma sociologia de internet de boteco.

Então vamos lá. A internet mudou muito nos últimos anos. Se antes dava para saber quem eram os influenciadores de peso, agora toda semana eu me deparo com alguém que tem 2 milhões de assinantes no YouTube — e de quem eu nunca tinha ouvido falar! O que me leva a pensar quase diariamente na pergunta: o que faz um fenômeno de internet hoje? Será o conteúdo que eles criam? Cada vez mais eu penso que não só. Acho que a resposta está mais em carisma, esse aspecto da personalidade único e “incopiável”, e na disposição para expor a vida. Quanto mais vontade de se mostrar, de falar de todos os aspectos de si e disposição para interagir com seguidores, maior a chance de acumular fãs devotados.

Esses fenômenos pegam sua vidas e deixam a câmera do Snap e a do computador ligadas várias horas por dia. Não me parece que querem falar algo surpreendente, e sim apenas estar lá. O que me faz pensar também em uma segunda pergunta: o que as pessoas querem ver na internet hoje? Será que elas querem companhia, aquele lugar quase de conforto de alguém que “fala” com você o dia todo? Será que querem ver a “girl next door” fazendo sucesso porque isso significa que elas também podem chegar lá um dia?

São muitas perguntas ainda sem resposta. Se antes uma dúzia de pessoas era escolhida por ano para fazer parte do “Big Brother” e buscar a fama pela fama, a pulverização da internet está a ponto de transformar esse acesso, permitindo que qualquer um seja capaz de encontrar sua grande audiência. No que vai dar o desejo de Thaynara de ser uma subcelebridade? Ela já fez uma fanpage e ensaia dizer sim para os pedidos dos seguidores para que faça um canal no YouTube. Curta, se inscreva e aguarde as próximas atualizações dessa dança dos quase famosos.

PS — Depois da publicação deste texto, Thay já recebeu a visita da youtuber Jout Jout em São Luís e foi convidada pela empreendedora Bel Pesce para fazer uma viagem pelo Vale do Silício, onde está agora :)

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