Hoje me chamaram de "Classe Média do Youtube"

Achei provocador e me fez pensar em escrever este texto

YOUPIX
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por Pablo Peixoto, criador e apresentador do Qu4tro Coisas

Do ponto de vista social, a classe média tem uma característica infame: Ela sonha com a elite, e ataca a classe baixa para se sentir notada e valorizada. Como diria meu amigo e grande cartunista Ricardo Coimbra: “É subserviente com o grande e autoritário com o pequeno, tem a marca do covarde.”

A "classe média do Youtube" não é diferente de qualquer outra classe média. Comecei a pensar onde me encontro e como venho me comportando nessa pirâmide. Estou sendo justo comigo mesmo e com os outros?

Meu canal, o Qu4tro Coisas faz 5 anos semana que vem. É fruto de um trabalho de horas vagas, que tomou seu espaço e hoje ocupa a parte central da minha vida. É um canal que deu certo não dando certo ao mesmo tempo.

Explico:

Não deu certo na medida em que nunca atingiu o grande público. Nunca ganhou prêmio youPIX (foi indicado uma vez por júri técnico, o que é sintomático), nunca foi best seller, nunca lucrou rios com adsense, mesmo nos bons dias do adsense.

Porém, é um canal com qualidades que agradam o anunciante. Tem clientes fortes, (como um canal de televisão que retransmite seus programas na TV paga) um público fiel, fruto de um relacionamento de meia década. Não é um fenômeno, mas é uma casa de bases sólidas.

Por estar tanto tempo “na estrada”, também é um canal que tem história pra contar. Que viu grandes youtubers nascerem e grandes youtubers caírem no anonimato, Viu youtuber teen ficando adulto e adultos se comportando como teens para cativar uma audiência que aparentemente não envelhece e se renova constantemente.

Como observador e cronista de sua época, o Qu4tro Coisas também viu canais com um potencial absurdo pararem por falta de motivação e iniciativas pouco inspiradas caírem nos braços do público. Muitas vezes.

Por que ainda não desisti? Porque mantenho a integridade do formato original do canal? Porque insisto em repetir a máxima de Oswald de Andrade, ele mesmo um classe média do Modernismo: “Um dia a massa comerá o biscoito fino que fabrico”?

Meu diferencial competitivo foi pensar um canal para publicidade, para criar branded content quando ainda não se falava em branded content. Fiz isso observando os Vloggers (como se chamavam os Youtubers no início desta década) tentando entrar no ramo publicitário, parando de falar do seu cotidiano para anunciar sabão em pó. Era risível, falso, forçado, a marca era retirada a fórceps do conteúdo. Foi quando me deu o estalo, e se meu conteúdo fosse de antemão voltado para publicidade? Não seria natural? O público não ficaria mais à vontade? Ficou.

Se isso abalou a espontaneidade do canal e é o grande motivo de nunca ter atingido a estratosfera do Youtube, deixo para meus dias de paranoia, aqueles que você fica se perguntando onde foi que errou.

O Youtube não é diferente de qualquer tipo de arte, de entretenimento. Na música, teatro, cinema, sempre existe a cantilena “o bom trabalho não é reconhecido”, “só porcaria faz sucesso”, já vi muitos criadores com boas ideias caírem em um ressentimento e frustração que só atrapalhou o desenvolvimento de seus projetos.

Chega um ponto em que percebemos que temos uma empresa nas mãos, um canal é sua empresa. E você quer que essa empresa dê certo, dê lucro, conquiste clientes. É onde arte, integridade, identidade começam a colidir com as contas vencendo, com a sensação e reconhecimento abalada, com um senso de injustiça que assola a tal “Classe Média do Youtube” é quando muita gente desiste, muita gente se dilui, muita gente faz tudo pela audiência como diz o jargão.

O segredo do meu fracasso é que não paro. Não dá mais para parar. Ao invés de desistir, de me encolher na mágoa de não ter estourado ou bajular Big Shots para ganhar alguma migalha, escolhi ser o “Youtuber que mais trabalha no Brasil”. O canal está melhor do que nunca, obrigado.

Roberto Gomes Bolaños dizia que não pensava no público para criar seus personagens, ele fazia o que gostava e um dia o público o encontrou. Tinha mais de 40 anos quando “Chapolin” foi ao ar.

Outro dia li a frase “Just Keep Uploading” Escrevi no meu quadro e leio todos os dias.

E amanhã é outro dia e já tem vídeo novo no Qu4tro Coisas.

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