Bem-vindos à era da “expressão instantânea”

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4 min readAug 18, 2015

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por Patrícia Moura, especialista em Mídias Digitais, professora de Marketing Digital e Social Media Manager da Agência Arabella

Estava ouvindo uma rádio on-line outro dia (Rádio Cidade FM, da minha Terra carioca), quando os locutores anunciaram seu username no Periscope e Twitter. Há um bom tempo observo a adesão das rádios às novas redes sociais e apps como meios de interação com o ouvinte. No minuto seguinte, tuitei “Seria o Periscope um concorrente pro Snapchat?”;

A Bia se inquietou com a minha pergunta e aqui estou eu, compartilhando minhas ideias através deste texto. Bom, em primeiro lugar, a conclusão a que cheguei analisando aplicativos de vídeo é que, atualmente, todo vídeo, independente da plataforma que esteja sendo divulgado, é concorrente.

“A visão é o maior e mais priorizado sentido que nós temos. Nós estamos constantemente olhando para o mundo ao nosso redor. E rapidamente identificamos e analisamos o que vemos”. Emily Balcets — Ph.D. in Psicologia Social pela Cornell University dos EUA.

Estar olhando constantemente para o mundo é apenas um dos quatro principais paradigmas da era em que vivemos:

  • Internetização: estágio em que toda marca, produto, serviço, instituição ou pessoa “deve” estar na internet — e o mundo já alcançou este estágio. Isso já pode ser considerado uma norma social;
  • Visibilidade: tudo “deve” ser visto, fotografado, registrado, compartilhado, comentado. E assistir é um comportamento adquirido em massa desde o surgimento da TV na década de 50, no auge da juventude de nossos pais e avós.
  • Mobilidade: “quando falamos em mobilidade, o natural é que a primeira imagem que venha a nossa cabeça é o celular”. O Brasil tinha 180 milhões de celulares em 2012. Alcançou 282 milhões de celulares em Junho de 2015, segundo a Teleco. Desses, 154 milhões estão conectados à internet, segundo a FGV.
  • Agora: A quarta e última característica desta era é o timming, ou seja, o AGORA. É poder acessar tudo em tempo real.

Se apoiando na soma de todos esses paradigmas, Evan Spiegel, o fundador do Snapchat, aplicativo que melhor materializa essa era onde tudo parece caminhar para a impermanência, deletou todos os seus tuites, alegando que ele "prefere viver no momento". Para ele, a mobilidade deu mais poder ao conceito de "expressão instantânea".

Esse vídeo genial do próprio Spiegel resume bastante bem esse momento em que videmos: mobilidade, internet, AGORA e exposição.

Se muito do conteúdo produzido hoje tem a internet como plataforma, tudo precisa ser visto e tudo precisa estar disponível em nossas mãos, celulares, bolsas e bolsos AGORA… Será que existe tempo pra se engajar com tudo isso? Claro que não. O dia continuará tendo apenas 24 horas. E seremos obrigados a selecionar (ou permitir que selecionem por nós) o que será consumido.

É nesse status quo que nascem aplicativos como Meerkat, Periscope, Vine e Snapchat. E que chegam a reunir 1 milhão de usuários dispostos a consumir conteúdo em vídeo em apenas 10 dias (exemplo verídico do Periscope).

E qual é a necessidade de termos dois ou mais aplicativos de transmissão de conteúdo em tempo real gastando o pouco espaço que as operadoras nos dão em nossas “áreas de trabalho”? A chance que temos agora é de escolher onde queremos estar. “Em qual pista da balada”. Com que pessoas interessantes, produzindo informação ou entretenimento agora.

Nesse cenário, as marcas também escolhem em que plataformas querem estar e com quais objetivos. Algumas, sendo mais experimentais com o Snapchat. Outras, já coletando dados de audiência no Periscope ou medindo a conversão de um desconto/amostra grátis no Vine.

O Periscope pode ser um concorrente para o Snapchat? Ambos são excelentes ferramentas pra mostrar a vida como ela é, sem edição, sem filtro, em tempo real. Arquivo é opcional, a ordem é a impermanência. E a diferença entre eles é bem pequena.

Da ordem do conteúdo:

  • Snapchat: Conteúdo snackable — 10 segundos de relevância ou não. Disponível por 24 horas.
  • Periscope: Conteúdo relevante pelo tempo que o usuário determinar. Disponível por 24 horas.

Da ordem do controle:

  • Snapchat: Não possui qualquer tipo de relatório ou controle. Apenas o número de quem viu ou printou o snap.
  • Periscope: Seguidores, visualizações, “hearts”, comentários e interações via Twiter.

Concorrentes diretos ou indiretos, eles estão aí pra provar que a era do vídeo mobile está instaurada e vai demorar para que outra linguagem a substitua. Uma recente pesquisa da Cisco, afirma que 80% do tráfego da internet em 2019 será de vídeo. Sim, vídeo é mais pesado do que outros pacotes de dados, mas é também o segmento de mídia que vai ter o maior crescimento em investimento publicitário nos próximos 3 anos. E todos sabem que onde tem dinheiro de anunciante tem audiência.

Na história da mídia, a veiculação em vídeo sempre foi o artefato de maior desejo dos anunciantes. Ter o poder de criar, produzir, veicular e coletar dados da sua própria audiência de forma acessível, simples, móvel e barata soa às marcas uma ideia muito interessante.

E não é à toa que McDonald’s, Coca-Cola, Taco Bell, Gap, Red Bull, CNN, Samsung, Oreo, Puma, Volkswagen, Sephora, Dove e programas de TV e de rádio já aderiram a um aplicativo ou outro (Meerkat, Snapchat ou Periscope). O fato desses aplicativos, por padrão, não deixarem rastro, é um fator importante para empresas que ainda não entenderam como entrar na conversa das redes sociais onde tudo pode ser monitorado.

Estaria o Instagram ameaçado por essa nova geração de aplicativos? Acho que não. Pelo contrário, ele pode ser complementar, assim como Facebook e Youtube. Mas a mensagem está mais do que clara para produtores de conteúdo autônomos e de grande escala: formule a sua ideia, produza e “it’s showtime”. Ligue a câmera para o mundo! A platéia está formada e ávida pra consumir experiências ao vivo.

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A YOUPIX é uma consultoria de negócios para a Influence Economy.